quinta-feira, 12 de junho de 2014

TODAS AS LETRAS da 22ª Sapecada da Canção Nativa - Lages - SC


Postado por Matias Moura
Bahstidores
www.bahstidores.com

O site Bahstidores junto com a Rádio Fronteira Gaúcha estarão fazendo a cobertura da 22ª Sapecada da Canção Nativa nos 16 e 17 de Junho .

A Sapecada da Canção Nativa e a Sapecada da Serra Catarinense são festivais de música nativistas que fazem parte da programação da Festa Nacional do Pinhão. Eles buscam preservar as raízes culturais, divulgando a história e os costumes da região e fazer um intercâmbio com artistas do Estado e dos países do Mercosul.

É nestes pagos de costumes gauchescos embalado pelo frio do minuano ao pé do fogo de chão que, surgiu a Sapecada da Canção Nativa, evento pioneiro no gênero no Estado de Santa Catarina, que orgulha o povo serrano e catarinense. O nome Sapecada vem de um hábito típico da região serrana dos campos de Lages, é a forma mais primitiva de consumo do pinhão.
Sapecar o pinhão significa assar o pinhão numa fogueira feita com grimpas (galhos) do pinheiro. O pinhão é lançado ao fogo e retirado após a queima das grimpas quando já estará pronto para ser saboreado. O nome Sapecada foi dado ao festival para reforçar a lembrança deste hábito típico da região, entre aqueles que cultivam as tradições.

22ª SAPECADA DA CANÇÃO NATIVA
REALIZAÇÃO DIAS 16 E 17 DE JUNHO DE 2014 DURANTE A FESTA NACIONAL DO PINHÃO




1. MAMANGAVA

Letra: Lisandro Amaral
Musica: Lisandro Amaral /Guilherme Collares
Interprete: Lisandro Amaral 
Ritmo: Vaneira

Vou folcloreando uma chamarra galponera
Destas que levantam poeira num surungo de lampião
Até me lembro as “avanera” do Adalberto
Que imitava o campo aberto numa tasca do rincão

Cada chinoca envenenada de sereno
Encostada ao pano bueno do meu lenço de chimango
Vinham colgadas pela doçura dum verso
Com promessas de universo em patacoadas de fandango

Deixei na copa todo soldo da labuta
E me meti na reculuta coa mais linda da festança
Tinha o cabelo como pra de mamangava
E quando o perfume passava eu me enlotava de esperança

Foi numa volta folcloreado de licor
Que eu te vi no parador enfeitando uma janela
Penteava a crina no espelhão da lua nova
E derramei tudo que é prova pra "podê" dançar com ela

Fiz de improviso dois “versito” macanudo
Folcloreando eu disse tudo - que a esperança é um coração
E quando eu lembro as “avanera” do Adalberto
Eu imito o campo aberto na penumbra do lampião

Morena trança cadente
Sorriso de lua nova
Sou índio de pouca sova
Me refugaram novito
Eu fui tateando aos pouquitos
Um resto da vida em dança
E me encontrei na esperança
De encontrar nalgum amor
O brilho pro domador
Que apagou luas passadas
E acendeu velas queimadas
No escuro do corredor

E aí estás esperança
No espelho da lua nova
E eu índio de pouca sova
Meto a cabeça ao teu freio
Na pobreza dos “arreio”
Um reino pra te ofertar
Só quero um pouco do olhar
Que tens de sobra – esperança -
E eu te prometo essa dança
E um compromisso profundo
Que eu paro a lua do mundo
Pra que renoves a trança...

Guilherme Collares: Violão e Agê
Pedro Sá: Violão e Violão corda de aço
Lucas Gross: Guitarrón
Márcio Costa:– Pandeiro
Edilberto Bérgamo: Cordeona Três Hileras e Cordeona de Oito Baixos
Lisandro Amaral: Voz e Recitado
Arranjo: Guilherme Collares, Pedro Sá e Edilberto Bérgamo
Gravação: Gravada e Mixada no Estúdio Caseiro “Costa do Camaquã”, Bagé, RS

2. MANHÃ DE RODEIO

Letra: Edilberto Teixeira
Música: André Teixeira
Intérprete: André Teixeira
Ritmo:Chamarrita 

Com a palha e em cima os gravetos
O fogo amanheceu armado
E, num upa, com os tocos secos
O galpão ficou iluminado.

Nesta manhã querendona
Os galos chamaram os peões
Pra conversar com a cambona
Bem recostada aos tições.

Depressa formou-se a roda
Dos tomadores de mate
E os pitos de fumo-em-corda
Com a cuia o tempo reparte.

Do sangrador já se escuta
O moqueio das chamas tontas,
Frigindo os nervos da nuca
E as duas ripas das pontas.

Com a erva usada e a água morna
E o assado que não tem mais
Os cavalos, todos na forma,
Dão a orelha pra os seus buçais.

Um peão destorce as rodilhas
De um laço que não tem dono,
E um outro desapresilha
O cabresto do cinamomo.

O capataz pegou o grito:
“-Minha gente, bamo s’imbora!”
Ficando ali um peão solito
Maneando os tentos da espora.

Se foram... Esporas cantando
O canto das suas rosetas
E a cuscada ía pulando
No freio de um sotreta.

Ficou só, pulseando as vacas
O peão caseiro da estância
E o sereno molhando as patas
Da alvorada que vem mansa.
Na porteira da invernada
Se esparrama toda a escolta.
Mate-amargo, carne assada,
Café bem doce na volta!

Eeeera vaca!... Ibahahá!...
Grita forte a peonada.
Pega-pega Humaitá!...
Que o sol já vem na canhada.

O gado vai levantando
Com esta radiosa manhã
E, aos poucos, vai se fechando
O rodeio da tarumã.

André Teixeira: Violão, Guitarron e Baixo 
Edilberto Bérgamo: Gaita Botoneira
Gravação: Estúdio Take 1 São Gabriel-RS

3. VERSEADOR

Letra: Gujo Teixeira
Música: Marcelo Oliveira
Intérprete: Marcelo Oliveira e Raineri Spohr
Ritmo: Chamarrita 

Cada palavra que eu canto tem cheiro de terra e pasto
E a melodia dos bastos num doradilho estreleiro
Rimo carona e baixeiro, com pêlo e lombo suado
E assino o nome do lado, com um par de espora campeiro...

Ajeito um toso na crina, na cola só aparo “as ponta“
E a tradição já me aponta que eu ate de quatro galho
Pra mim nem é mais trabalho, as madrugadas de encilha
Quem bem cedo se enforquilha, acha melhor os atalho...

Sou verseador de campanha, tenho a palavra ligeira
E um sotaque de fronteira, cinchado de argumento
Eu me afino qual tento, quando a cordeona se assanha
Ainda mais se uma canha, adoça o meu pensamento...

De à muito venho cantando aquilo que sei e penso
Não sei se a cor do meu lenço, rima com a boina tapeada
Meu lápis ponta quebrada, já fez mil versos de amor
Me garanto verseador, me aponto e volto pra estrada.

Eu li num livro estes dias, umas palavras bonitas
E atei com laço de fita pra entregar pra minha prenda
Nestes versos de encomenda deixei um beijo pra ela
Que me acenou da cancela, quando eu chegava na venda.

Por este mundo de Deus, já cruzei tanta biboca
Que vez em quando alguém toca meus versos n’algum galpão
Escuto o som de um violão dedilhando só nas prima
E vou encordoando as rima, pra o causo de um milongão...

Cristian Camargo :Guitarron
Roberto Borges : Violão
Fabricio Moura : Baixo
Dé Oliveira : Pandeiro
Aluísio Rockembach : Acordeon
Gravação: Stúdio Flor e Truco Glorinha - RS / Kbça Home Estúdio, Pelotas - RS
Mf Estúdio, Dom Pedrito - RS

4. SALEIRO

Letra: Evair Suarez Gomez
Música: Juliano Gomes
Intérpretes: Adriano Gomes, Leonel Gomez e Gustavo Teixeira
Ritmo: Milonga 

Dancei no embalo do vento
Com a cantoria dos sapos
Até que a trança d´um laço
Senti envolver-se em meu corpo

- Fui “ceibo em flor” igual outros -
E da canhada pra coxilha
Lambi pasto e maçanilhas
Pra renascer neste tronco

Num cepillar de coxilha
Rodeado de casco e terra
A cantilena que berra
É um mar de couro estirado
Voltei a ser batizado
Na catedral dum rodeio
Alma de sal... Baba de gado...
Corpo de tronco de “ceibo”

Sou cocho tronco de “ceibo”
Bordado a berro de vaca
Quando o rodeio se aparta
Sigo cumprindo meu rito
O gado marcha ao tranquito
Na direção da canhada
E eu de alma lavada
Me encontro sempre solito...

Num topo, plano, de cerro
É onde a noite me beija
Saleiro, corpo estendido
Tronco de “ceibo”, madeira...
A lua inteira é um clarão
E enquanto o dia não chega
Com cada pedra de sal
Empresto o brilho às estrelas.

Quinto Oliveira: Violão: 
Juliano Gomes: Guitarrón 
Rodrigo Maia: Baixo Acústico 
Fabiano Torres: Gaita Botonera 
Davi Batuka: Percussão 
Arranjo: Juliano Gomes e Fabiano Torres
Gravação: Estúdio MH, JG Estúdio e Estúdio Flor y Truco - RS

5. FLORZITA DE CAMPO ABERTO 

Letra: Sérgio Carvalho Pereira
Música: Kiko Goulart
Intérprete: Ricardo Bergha
Ritmo: Milonga 

As pedras da sanga clara,
Que corre ao fundo da estância
São tão preciosas, Tão raras,
São o livro da minha infância.

Ali cruzei com um bilhete,
Direito a um rancho lindeiro.
Pedia por minha mãe,
Querosena pra candeeiro

Levava para o vizinho,
Charque, Laranja, Mandioca
E a esperança de aos pouquinhos
Ver tua trança chinoca.
----------------------------------
O mato que segue o rio
Tem uma estreita picada.
é um amigo sombrio,
Traz minha história guardada

Guarda o aroma das flores,
Cheiro de raiz molhada,
Me viu pechar com os rigores,
Rumbeando ao rancho da amada

Pra sentar junto contigo
E dar mate ao coração,
Assim tu vinhas comigo,
Sem sair do teu rincão.

Aquela estradinha andeja,
Aberta por gado e por gente,
Tem alecrins, tem carquejas,
Que lembram de mim contente.

E tem só marcas de casco
Pra o lado da tua morada.
Na volta... eu vinha tão leve
Que nem marcava na estrada

Mais quinze dias de lida
E estavas sempre comigo.
Que linda e terna é a vida,
Pra quem não sente o perigo!
Naquela taipa arrombada
Na invernada da tapera,
Cada mareta da aguada
Conta um pouco do que eu era.

Ali me vi ao inverso,
Na flor d´agua cristalina.
E fiz meu primeiro verso,
Para agradar-te menina.

-Florzita de campo aberto
Que a nós do campo apaixona
Te cuida o gado liberto
E as tropilhas cimarronas.-

E assim me tornei poeta,
Cantador e vira-mundo
E tu ficaste, discreta,
Embelezando esses fundos

Jamais achei teu encanto
Por este tempo disperso.
Voltei pra encontrar meu canto
E completar o teu verso

- Florzita de campo aberto a nós do campo apaixona
Te cuida o gado liberto e as tropilhas cimarronas. -
Eu não te cuidei florzita minha poesia incompleta,
E te deixei... Tão bonita! “Por cismar de ser poeta.”

(E te perdi... tão bonita! Por cismar de ser poeta)

Ricardo Bergha: Voz E Guitarrón
Kiko Goulart: Violão E Vocal 
Vitor Amorim: Violão E Vocal
Indio Ribeiro: Violão E Vocal
Gravação: ''Martin Estudio'' Lages- SC

6. RENASÇO PRA LIDA

Letra: Mario Lucas
Música: Diego Camargo e André Teixeira
Intérprete: André Teixeira
Ritmo: Milonga

Serei a trança do laço que enfeita a anca do pingo,
A rastra meio curtume das volteadas de domingo.
Estarei no encontro do mouro no feitio de uma peiteira.
Num reiador macanudo nos estalos da soiteira.

Serei o aperto da cincha, no latego e travessão,
Um tirador fachudaço pra escorar os ‘tirão’.
Na firmeza de um buçal que ajuda o domador
Virei desde a cabeçada, da cedeira ao fiador.

Virei na forma de um basto
Moldando o lombo do mouro,
A cada armada serrada
Que prenuncia o estouro.
Em cada naco de couro
Cumprindo o ciclo da vida
Assim me vou deste mundo
Pra renascer para a lida.

Serei o tento da espora, estrela perdida do céu.
A forma de um barbicacho que sustenta algum chapéu.
Virei no estilo campeiro do aperto de um bocal,
Numa maneia de trava que dobra qualquer bagual.

Serei os pares de rédeas que faz do potro, cavalo.
O velho ritual sulino que Deus me deu por regalo.
Na rudeza de um sovéu, ali estarei torcido
Três tiras formando um só pra não se dar por vencido.

André Teixeira: Violão, Guitarron e Baixo
Luciano Maia: Acordeon
Gravação: Estúdio Take 1 São Gabriel-RS


7. MILONGA PROS MEUS ARREIOS

Letra: Rafael Ferreira/ Felipe Corso
Música: Vitor Amorim
Intérprete: Vitor Amorim
Ritmo: Milonga 

Tem gente que sente pena
Dos meus “arreio” surrado
Da cincha mal acabada,
Do pelegão costurado
Das minhas rédeas desparelhas
Que “espichô” golpeando potro
Dos meus “estrivo” de ferro
Um diferente do outro

Do buçal forte e antigo
De quatro tentos trançado
Com a argola enferrujada
E o cabresto remalhado
Da cabeçada de sapo
Um “par de vez” remendada
Que pra esconder “as costura”
Carrego bem engraxada!

Poucos sabem do apreço
Que tenho pelo o que é meu
Quero bem cada costura
Que no couro se prendeu
Cada rangido insistente
De basteiras ressequidas,
Cada tento desparelho,
Sabe um pouco da minha vida.

Por isso quando te vejo
Encilhando um redomão
Percebo em ti a beleza
Que vai além da visão
Não sou dos que sujo garras
Pra promover o meu viço
Apenas sovo na lida
Quando me apura o serviço

Eu mesmo não sinto pena
Tampouco tenho por feio
São cicatrizes de lida
Que chamo de “meus arreio”
E embora pouco “bonito”
Tenho honra de canta-los
Pois mesmo assim tão judiado
Nunca pisou um cavalo!

Quinto Oliveira: Violões
Gravação: Estúdio Flor y Truco, Glorinha, RS

8. A PEDRA JOGADA

Letra: Adriano Silva Alves
Música: Marcelo Oliveira
Intérprete: Marcelo Oliveira, Xiru Antunes e Quarteto Coração De Potro 
Ritmo: Milonga

Aceito a pedra jogada
Da mão que julga calada,
Os meus motivos de ser
Minhas razões de viver;
De carregar tantas penas
Sentença que me condena
A “ser” bem mais do que o “ter”...

Aceito a pedra jogada
Da dura mão, da palavra
Que fere mais do que a dor,
Espinho, sombra sem flor
Pele da alma que sangra;
Ponta afiada de lança
Que muda a vida de cor.

Aceito a pedra jogada
Mão do silêncio que guarda
O que meu verso viveu,
O que talvez escreveu
Pra renascer outro tempo
Quando liberto foi vento;
E o “vento” nunca foi seu.

Aceito a pedra jogada
Da mão, da boca cerrada
Quando esqueceu de sorrir,
Triste razão do existir
Contrario olhar do caminho;
Pedra oculta, descaminho
Onde se pode cair.

Aceito a pedra jogada
Da mão que vi machucada
E “machucada” chorou,
Sal da prece que restou
Pra sentenciar uma cruz
Pesada conforme a “cruz”;
Do “Santo” que nunca errou.

Aceito a pedra jogada
Da mão que julga, mais nada,
Nas leis do sim e do não
Na lei da pena e o perdão
Onde se morre e se nasce
E onde se oferta a outra face;
Sem ter mais pedras na mão.

Aceito a pedra jogada
Da mão, sentença firmada
Que entrega o nome, culpado,
Pela dor, pelo pecado
Na imperfeição do meu ser
Que espera o “outro” dizer
Se julgou “certo”, o errado?

Kiko Goulart: Violão Sete Cordas e Vocal
Indio Ribeiro: Violão e Vocal
Vitor Amorim: Violão e Vocal
Ricardo Berga: Guitarron e Vocal
Gravação: Studio Flor E Truco, Glorinha RS/ Martin Estúdio , Lages SC / Stúdio CAMINANTE , Pelotas - RS


9. JOÃO MARIA MARIMBONDO

Letra: Rafael Machado
Musica: Kiko Goulart
Interprete: Pirisca Greco
Ritmo:Milonga

João Maria Marimbondo
Operário – peão obreiro
Queria um rancho redondo
Igual ao do João Barreiro.

Nada de muita frescura
Nem exigências maiores
Talvez com mais aberturas
Ainda que bem menores.

João Maria poderia
Daqui um tempo com tempo
Criar diversa quantia
De divisórias por dentro.

Na volta tantos infindos
Quartos salas aposento
Além de um cômodo lindo
Pra sua linda no centro.

João Maria não sabia
Dos amores, seus feitiços
O trabalho correria
Não dava folga pra isso.

João Maria certo dia
Abriu asitas gaudérias
Um novo lar carecia
Resina barro matéria.

Voou calmo, manso, lento
Rumo’à um tronco-cabriúva
Derrubado pelo vento
Brabo da última chuva.

Na chegada ouve estrondos
Harmonias resmunguentas
Muitos outros marimbondos
Já batiam ferramentas.

Entre eles Ana Rita
Vespa miúda – guria
Era a coisa mais bonita
Já vista por João Maria.

Que ainda não sabia
Nem de amores ou feitiços
Mas que a contar desse dia
Passava a sonhar com isso.
Ana Rita lhe sorria
Uma, duas vezes, três
Coitado do João Maria
Vermelho de timidez.

Achegou-se sorrateiro
Repensando seu dilema
Ao menos fosse um barreiro
Pra lhe assobiar algum tema.

Paciência – refletia
Não é hora pra queixumes
Se não cantava, zunia
Zunia de fazer ciúmes.

Usou gestos e palavras
Contou os planos que tinha
Disse o que intencionava
Jurou fazê-la rainha.

Ela toda comovida
Treme tremia supondo
Não imaginar sua vida
Sem aquele marimbondo.

Enamoraram-se as duas
Pequenas almas de asas
Cansaditas de erguer casas
Que nunca seriam suas.

É pena o tempo matreiro
Só nos revelar depois
Que vespas não são barreiros
Feitos pra viver em dois.

João Maria partiu dessa
Pra uma melhor acredita
Morre pra honrar a promessa
Feita para Ana Rita.

Que enquanto majestade
Coordena a construção
D’um rancho tal as vontades
De seu marimbondo João.

É uma pena repito
Só descobrirmos depois
Vespas não são barreiritos
Feitos pra viver em dois.

Kiko Goulart: Violões, Guitarrón e Baixo
Gravação: Martin Estúdio, Lages – SC

10. MILONGA PRA QUE “EL GAUCHO NO SE MUERA”.

Letra: Marco Antonio “Xiru” Antunes
Música: Vitor Amorim
Interprete: Folklore 4 e Xirú Antunes
Ritmo: Milonga

Milonga que estas aqui,
Junto as cordas da guitarra,
Trouxe do cerno dos matos,
A alma das vibrações,
Segredo em jacarandá
Misturando pulsações,
Pra que “el gaucho no se muera”
Pra que não morram fogôes.

Das “criollas” os relatos,
Dos ruidos das esporas,
O abraço a terra bugra
Quando algum “gaucho” golpeó,
Contrapontos de algúm tigre
Que a coragem encilhou.
Bocal e rendilha cruzada,
A moda do pago que sou.

Desde então enfeitiçado,
Galponeio teus acordes,
Seguro que me devolves
A antiga casta do rumo
Que anoiteceu num consumo
De mate e fogo de chão,
E amanheceu olfateando
Fumaça de redomão.

Milonga que vieste a mim,
Na tarde cinza do maio,
Uma garoa de frio
Encharcando poncho pátria,
E a milonga companheira
Bordoneava na guitarra.
Gotejos de barro e palha
Da pele do rancherio,

Os terços da tua oração
Na cruz branca da guitarra,
Tem bençãos de madrugadas
E auroras sereneiras,
Com resmungos de porteiras
E cruzos de nazarenas
Reafirmando os genuinos
Da velha raça campeira.

Guilherme Collares: Guitarrón e Voz
Pedro Sá: Violão E Voz
Lucas Gross: Violão E Voz
Márcio Costa: Violão E Voz
Xiru Antunes: Recitado
Arranjo: Guilherme Collares
Gravação: Mixada no Estúdio Caseiro “Costa Do Camaquã”, Bagé, RS
E A Voz De Xiru Antunes Estúdio CAMINANTE, Em Pelotas, RS

11. CAMPO ADENTRO

Letra: Eron Vaz Mattos
Musica : Cristian Camargo e Aluísio Rockembach
Interprete: Fabiano Bachieri e Lisandro Amaral
Ritmo: Chamarra 

Gado com pasto na boca
Estendidos nas laterais,
Macegas estraladeiras
Soltam flores pelo ar;
Ouve-se, ao longe, um cantar
De um perdigão escondido
E o gado bota sentido
No meu jeito de assoviar.

Grota de campo, sanga e mato,
Coxilhas e banhadais,
Estradas e pajonais,
Cocurutos pelo meio...
Trina a barbela do freio,
Escarceia o pingo bueno,
Molha o trote no sereno
Suando a xerga do arreio.

A capinchada pastando
No campo fino da costa
E o tempo encontra resposta
No que nasce vive e morre
E assim a vida transcorre
Colhendo destes rincões
A mais sabia das lições
Em cada fato que acorre.

Um touro mascando um osso
Fucinho erguido, babando,
As avestruzes em bando,
Potrada de pêlo mouro
Mostrando a marca no couro
-O topete até o focinho-
Eum carancho volta ao ninho
Num pé de sombra-de-touro

Longe da estância e do posto
Não se avista um aramado,
Cheiro de pasto e banhado
Canto de aves e sengas,
Pega-pegas, japecangas
Costeando a grota do fundo
Que é fronteira do meu mundo
Com aduana de pitangas.

Aluisio Rockembach: Acordeon
Cristian Camargo: Guitarron
Maykell Paiva: Violão Solo
Roberto Borges: Violão
Luciano Fagundes: Baixo
Gravação: Kbça Home Estúdio, Pelotas/RS

12. TENTO SOVADO

Letra: Evair Suarez Gomez
Musica: Adriano Gomes
Intérpretes: Adriano Gomes e Leonel Gomez
Ritmo: Milonga

Do palanque me adverte
Com a coscorra o pingo bueno...
Parece ver em tropilhas
Se acercar meus recuerdos...

O bolicho ainda é o mesmo...
Cartaz grande: Pulperia.
O olhar, tropa estourada
Bebe água em minhas pupilas.

Mirar que me foi matreiro...
Pede pouso, não desvia
Condenou a ser aguaceiro
O tempo claro dos meus dias.

Não grito mais: - Outra canha!
Nem insisto pra o estribo
Hoje o vestido de chita
Tapou as flores de encardido...
Pede pouso pra os teus olhos
Em outro olhar parecido.

Aquél manojo de pelo...
Qual guardei por tanto tempo
Preso às rédeas do bocal...?
Pois nem as rédeas tenho mais...

Não peço mais outra canha
Tampouco de amor padeço
Nem choro mais minhas penas...
“Perdona... Cosas de viejo”.

Se enredou na trança rude
Desse meu tempo passado
Esse sentimento antigo
Que soube cobrar dobrado
E hoje é só um tento suave...
De tanto y tanto sová-lo.

Quinto Oliveira e Gustavo Oliveira: Violões
Juliano Gomes: Guitarrón
Fabiano Torres: Gaita Botonera 
Rodrigo Maia: Baixo Acústico
Arranjo: Adriano Gomes e Juliano Gomes
Gravado nos Estúdios: Estúdio MH, JG Estúdio e Estúdio Flor y Truco, Grorinha,RS

13. COPLAS PRA DOM PICANCHO

Letra: Carlos Roberto Hahn e Luís Rosado
Música: Volmir Coelho
Interpretação: Volmir Coelho
Ritmo: Chamarrita

Pras bandas do Carovi, nos campos lá de Santiago
Don Picancho nasceu ali, de barro antigo forjado
Todo serviço, por gosto, fazia muito bem feito
E os gelados de agosto escorava no osso do peito .

“Conheço os bois que lavro”; “Não carece documento”
Esses eram seus ditados, não “froxava” nem um tento
Nos palanques bem socados e nas tramas alinhadas
No ofício de alambrador, sesmarias demarcadas.

Na força bruta do braço, tirava lenha do mato
Esse índio missioneiro era um gaúcho de fato
Derrubava um tronco a fogo, numa ciência ancestral
E pra não abichar um capado, um punhadito de sal

De Santiago a Palmeira, levou “miles” de munícios
Erva-mate, azeite vindos de nossos irmãos “patrícios”
Carreteava caramelos, munição, lã e farinha
Fazenda para as bombachas e chita pra Sinhazinha

Foi encurtando a distância, com fé e estampa
Envelheceu lá na estância, um genuíno marca pampa
Sentava em frente do rancho com a prenda e o amargo
Assim vejo Don Picancho, a pura essência do pago.

Recitado:

Plácido Francisco Rosado, meu querido avô campeiro
Que na lida foi respeitado, para muitos é um luzeiro
Hoje miro esses campos, não vejo um taura assim
Conservo a tua templa acesa dentro de mim.


Volmir Coelho: Violão Base 
Cristiano Cesarino: Violão Solo 
Jorge Prado: Contrabaixo
Diego Machado: Gaita Botoneira
Nirion Machado: Guitarron
Volmir Coelho: Arranjo 
Gravação: Estúdio Oficina de Música Cristiano Cesarino - RS

14. PIFADO 

Letra: Fábio Maciel
Música: Zé Renato Daudt/ Rodrigo Duarte/ Clênio Bibiano
Intérprete: Cristiano Quevedo
Ritmo: Valseado 

Primeira volta de um pife gaúcho
Aposta grande na mesa casada
Das nove cartas eu juntava só duas
Que era um Ás e um reizito de espada

Pior que isso só mesmo dois isso!
Mas foi a volta correndo bonito,
Comprei um oito e casei com um sete
E ali já tinha dois par formadito!

Já na outra volta eu comprei uma dama
Dessas da noite que venho esquivando
Era de espada conforme meu rogo,
Fechei um jogo e já fui me agrandando...

Melhor de carta eu seguia comprando
Nunca pegando os refugo da mesa
Pois veio o nove que eu tava esperando
E outro joguito fechei com destreza!

Mais uma volta e um lindo descarte
Veio do mão um cinco de copas
Eu tinha um quatro e já fiz um romance
Crente que ia bater na outra volta

Eram dois jogo, um quatro e um cinco
E um rei de bastos na mão me sobrando,
Mas no descarte largaram outro quatro
Que eu escorei, uma trinca esperando...

Não quis meu rei o parceiro seguinte
Foi ao baralho e comprou bem comprado,
Tinha um coringa em riba das cartas
Bateu de pronto, pois tava pifado!

Perdi meu jogo por ter olho grande,
Querendo mais do que tão merecia...
Não arrisquei, tive medo e receio
Fosse ao baralho comprava e batia!

Luciano Fagundes - Violão Solo
Gustavo Oliveira - Violão Solo
Maykell Paiva - Guitarron
Clênio Bibiano - Violão
Davi Batuka - Percussão
Zé Ricardo - Percussão
Gravação: Estúdios: Musisom Estúdio, Subsolo Sound Studio Ltda e Guaiaca Records - RS

15. MEU TEMPO VIROU SAUDADE

Letra: Uilian Machado
Música: Nirion Machado / Volmir Coelho
Intérprete: Volmir Coelho
Ritmo:Milonga 

Gaúcho perdeu sua gana, como num simples estalo,
Gaúcho perdeu seu luxo, suas pilchas e seu cavalo,
“Pero no sabe por bueno”, “pero no sabe por malo”.

O campo some com a estiagem dos tempos,
Ficam lamentos de quem viveu com fartura,
Não vejo tropas que antes cruzavam estradas,
Cortando pampa de coxilhas nas lonjuras.

Moldei meu tempo nas paragens missioneiras,
Me fiz tumbeiro nas moradas campesinas,
Sorvendo apojo banhado de madrugadas,
Lavando a alma nas aguadas cristalinas.

A estância virou potreiro, meu tempo virou saudade,
Meus sonhos rudes campeiros, tropeados para cidade,
São testemunhas silentes dessa triste realidade,
Memórias de um peão posteiro clavadas na eternidade.

Pra onde foram os bolichos de campanha,
Jogos de tava, carreirada e pulperias,
Os domadores quebrando queixo de potros,
Os doze braças trançados das guasquerias.

E as tesouras parceiras dos tosadores,
Cortavam velos nas comparsas de esquila,
Foram tosquiadas pela inconstância do tempo,
Que apaga o rastro da tradição mais antiga.

Nirion Machado: Violão Base
Cristiano Cesarino: Violão Solo
Jorge Prado: Violão Solo
Volmir Coelho: Guitarron e Voz
Jhonatan Machado: Contra Baixo
Arranjo: Coletivo
Gravação: Estudio NM - Nirion Machado, Rosário Do Sul, RS

16. ENTRE CRUCES Y RIÑON 

Letra: Giovani González e Paulo Ozório Lemes
Música: Alex Har
Intérprete: Alex Har
Ritmo: Milonga

En el ruedo por supuesto
Hay campana si senhores !
También apadrinadores,
Reservao y tropillero
Tiento, talón, chimanguera,
La mano en La crinera
Y um payador milonguero!

Es fuerza y agilidad,
Del potro que se a soltao
Contra el guapo orquetao
En su lomo forcejando,
lleva el mango riba el brazo
Como si fuera un pedazo
De la patria jineteando.

La mirada de un pueblero,
Por de tras de un alambrao
Las palmas pa el orquetao
Gaucho pampa del rincón
Que su alma se desvela
Firmando vida Y espuela –
Entre cruces y Riñon- !

Suena...suena...la campana,
Llega el apadrinhador,
Canta fuerte el payador
Exaltando en su cantar
La coraje Del campero
Que pa el ruedoTransfoguero
Trae el arte de jinetear!

Y un rebenque plateao
Que pa`l cielo así no más
Luciendo el capataz
Por campera tradición
Invita a otra tajada
Que la vida és bien jugada,
Entre cruces y riñon!

Daniel Cavalheiro: Violão Base e Violão Solo
Marcelo Holmos: Guitarron 
Gravação: Estúdio MH.

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