Eu estava esperando o momento certo de começar com a minha contribuição aqui no blog e pensei em várias maneiras de fazer minha primeira postagem. Tentei ficar na minha e não escrever nada a respeito, mas no momento não estou conseguindo controlar minha ansiedade e até indignação (ainda não estou bem certa se é este o sentimento correto, mas...) a respeito deste evento ocorrido aqui na minha cidade – Pelotas – no sábado passado – dia 23/07/11.
Vou começar elogiando. Elogiando a Prefeitura Municipal de Pelotas que nestes tempos onde vários festivais de renome estão sendo extintos pela falta de apoio das prefeituras locais, aqui em Pelotas, nossos governantes deram crédito a um festival que estava ainda no papel esperando pela sua 1ª edição. Isso é louvável.
Também elogio as empresas que patrocinaram e apoiaram o evento: Farmácias Associadas, Creative Arte Visual, Santa Maria, Cabanha Tropeiros do Sul, Pro1 Produtora, Estância São José, Rose atelier da beleza, Gaúcho e Prenda, Bar e Restaurante Rincão Nativo, Prefeitura de Capão do Leão, Atelier do Som e entre outros.
Com este montante de ajuda era de se imaginar que o evento seria de uma grandiosidade considerável para a nossa música e nossos músicos. É admirável que em tempos como os de hoje tenhamos gente querendo organizar, gente querendo patrocinar e o melhor: o apoio dos órgãos públicos.
Até aí ótimo, tudo bem...
Mas infelizmente não me parece ter sido esse o ocorrido. Eu estou desenvolvendo uma trabalho onde acredito e afirmo – e acho que muitos concordam comigo – que os principais agentes da nossa cultura nativista são os músicos. Vejam bem: principais agentes e não únicos. Nunca desmerecendo todos aqueles que anualmente trabalham pela nossa cultura seja com festivais, rodeios, shows e etc, e que não são necessariamente músicos.
Então... o movimento nativista é um movimento exclusivamente musical, tendo nos nossos festivais seus maiores difusores. Festivais estes de música, músicas estas feitas por poetas e melodistas, defendidas por nossos músicos (muitos deles também autores e compositores), aí me pergunto: Como se faz um festival sem valorização dos músicos??
Por favor, mais uma vez não me entendam mal... já vi muitos festivais onde a ajuda é pouca ou nada, a premiação não tem dinheiro, mas isso quando o evento não teve apoio ou são daqueles que pelo menos não cobram para que o público prestigie. Tudo isso para mim é justificável e muito aceitável. Tudo bem... não tem premiação em dinheiro mas tem uma pequena ajuda de custo ou o contrário... ou então, não tem ajuda nem prêmio mas a entrada é franca ou uma ação social de repente, tudo pela divulgação e propagação da nossa música e cultura nativista. OK!!
Mas foi isto que obtivemos aqui em Pelotas?? Me parece que não!! Além de não ter ajuda aos músicos, nem premiação em dinheiro, o ingresso antecipado, vejam bem, ANTECIPADO, era de R$ 15,00. Na hora seria mais caro, talvez uns R$20,00. Sabe quando me lembro de um festival cobrar isso aqui pela volta?? Há uns 2 anos atrás o Reponte da Canção cobrava mais ou menos isso, porém pelos 3 dias de festival, o que no total nos daria R$ 5,00 por dia. Agora a pergunta que não quer calar... para onde se destinava este dinheiro???
Algumas pessoas disseram que o Teatro Guarany – local onde ocorreu o evento – foi dado pela prefeitura. Na tarde de domingo fiquei sabendo por fonte seguríssima que o show de encerramento também foi. A contratação se deu através da SME – Secretaria de Educação Municipal – pois todos os funcionários foram não convidados e sim convocados a assistir uma palestra no sábado a tarde dada pelo músico, o que seria dado como justificativa para o pagamento dele sair por lá. Um parêntese: achei essa palestra de grande valia, pois ele tratou da inserção da cultura dentro da escola, pena eu não ter assistido.
Teve público? Pelo que me disseram foi fraquíssimo. Eu deixei de prestigiar muitos amigos por não concordar com a falta de respeito aos nossos músicos. Falta de respeito sim, pois foi ouvido por uma amiga que não me deixa nenhum rastro de dúvidas da verdade que estava se cobrando ingresso para lucro: - Ah é!! E eu não vou ganhar nada?? Vai! Claro que vai! Descrédito nas tuas ações, falta de apoio para as próximas, falta de público, falta de contato com os músicos que tem muita influência em vários locais e por aí afora.
Sabem porque eu não me meto a fazer um festival? Porque se é pra fazer mal feito fico em casa lamentando a falta deles. Porque sei que não é fácil. Não adianta ter a LIC ao lado. Prova disso é a Manoca que está quase sendo cancelada. Não adianta ser tratada como patrimônio cultural, prova disso é a Califórnia e tantos outros por aí que por falta de incentivo estão morrendo à míngua.
Agora me digam... entre tantos e tantos grandes festivais que estão nos dando tanta notícia triste, precisávamos passar por isso?? Como disse meu irmão Fabrício Marques na tarde de sábado no twitter: “Judiaria ver o Guarany reabrir as portas pra nossa música dessa maneira, era até pra ser gratuito, jah q não hay $” – se referindo ao tb extinto Círio, festival que ocorria em Pelotas, também nas dependências do Teatro Guarany.
Fica aí o desabafo!!
Abraços, Sabrina Marques!!
Meus mais sinceros aplausos pra ti, Sabrina.
ResponderExcluirSendo franco, ao constatar pelo regulamento que o festival não teria ajuda de custo nem premiação não achei simplesmente falta de respeito com os músicos o dito festival. Embora não seja o fim de um festival, a valorização dos trabalhos que sobem a palco passam pela valorização daqueles que compõem e executam as músicam
Pra ser o mais franco possível, considerei um malcaratismo descarado o dito do festival, posto que, conforme dito, não havia ajuda de custo ou premiação, mas havia cobrança de ingresso. Mas digo falta de caráter posto um dos shows ser de pessoa integrante da comissão organizadora, ou como prefiram, na namorado da organizadora. Isso pra mim denotou explicitamente a intenção de auto-promoção que evidenciavasse com o dito evento.
Pra mim este festival não passou de nada além de um forma de se auto-promover com o trabalho e o dinheiro alheios. Por isso fiz questão de não mandar nenhum música para triagem do evento de auto-promoção da canção nativa.
Mais uma vez te aplaudo pelo texto que expressou em grande parte o sentimento de desgosto com o evento.
Abraço!!
Antonio
Parabéns pelo Blog. Quando li o regulamento do festival, me recusei irrevogavelmente a enviar trabalhos. E aproveito para esclarecer: como muitos sabem, sou médico; vivo - e bem - da minha profissão. Quando participo de festivais como letrista, abro mão de valores de ajuda de custo e mesmo premiação em dinheiro (meus parceiros estão aí para confirmar). Porque acredito que eles - músicos - são os verdadeiros merecedores. Eles que gravam, arranjam, ensaiam e levam ao palco a composição. Por outro lado, defendo incondicionalmente o direito ao reconhecimento do letrista: salvo três ou quatro exceções, de nomes consagrados, não raramente os versos de uma música são atribuídos a quem os canta, e não a quem os compôs. Voltando ao foco: este festival foi, sim, um grande desrespeito aos músicos, o tal "fazer caridade com chapéu alheio"; penso, no entanto, que deveria haver um esvaziamento do evento, um protesto através do qual não se enviassem composições para triagem. Ao ler o regulamento e concordar com ele, enviando trabalhos, os compositores estão de certa forma legitimando o que o Paysano chamou, como muita propriedade, "mau caratismo". Se é pra fazer um evento assim, que se faça um festival temático, fechado, para convidados, como tantos tem surgido pelo Rio Grande afora. Caso contrário, configura tudo o que foi exposto pela signatária do post e seus comentaristas. Um grande abraço e continuem assim.
ResponderExcluirMarcelo D´Ávila, médico e poeta - Santana do Livramento
Uma pena que tenha sido assim este "festival", que vergonha. Na verdade eu até estava pensando em ir, para "queimar umas chapas", mas pensei bem e cheguei a conclusão que não valia a pena, pagar para entrar e fotografar e os músicos não ganharem absolutamente nada. Então espero os projetos do Sete ao Entardecer que são com entrada franca, fotografo, coloco fotos dos músicos que por lá se apresentam no facebook.
ResponderExcluirEu fiquei até na espectativa de alguém twitar algo de lá, para saber se teve público, porque pelo valor imaginei que seria um fiasco.
Espero que os organizadores tenham de prestar contas para algum órgão do valor arrecadado e dos gastos.
Parabéns Sabrina pelo post.
Quero parabenizar a Sabrina pela publicação convicta e repleta de verdade em cada palavra.Também quero tornar explícito meu sentimento de repúdio ao que considero o DESRESPEITO DA CANÇÃO NATIVA,realizado em Pelotas, minha cidade natal. É inadmissível que um festival de música, não valorize de nenhuma forma a propriedade intelectual de compositores,intérpretes,instrumentistas e arranjadores, já que teve o apoio de tantas empresas e inclusive da Prefeitura Municipal. Considero isso um episódio lamentável,e particularmente me sinto ofendido e vou dizer porque. Me criei no lombo dos potros lá fora, escutando música num radinho de pilha e sonhando um dia ser músico,o que graças a Deus consegui com muito sacrifício e renúncia. Confesso que passei fome no começo de minha carreira 30 anos atrás. Mas hoje quando olho para o passado, me sinto orgulhoso de ter conseguido tantas vitórias na vida, graças ao RESPEITO por meus colegas de profissão e por todos aqueles que lutam honestamente por nossa cultura. Ao longo de minha carreira pude representar minha cidade meu estado e minha cultura nos Estados Unidos, no japão, na Argentina, no Paraguai, no Uruguai, no chile e de norte a sul do Brasil. Ganhei disco de ouro, gravei músicas com Pepe Guerra, Antonio Tarragó e outros tantos, recebi até uma comenda de honra ao mérito da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina pelos serviços prestados a cultura gaúcha no estado. Pra não falar de tantos prêmios recebidos nos festivais de música. Humildemente peço que me desculpem por ter citado alguns detalhes de minha trajetória,mas o fiz para que fique claro que por trás de cada artista existe uma história,de objetivos alcançados a custa de muita luta e sacrifício. Sacrifício que deveria ter sido valorizado por este festival( Canto Paisano) que ao que parece teve apoio para tal, mas preferiu cobrar ingresso caro e desrespeitar os artistas e a comunidade nativista. Sem dúvida uma página triste no universo cultural de nossa cidade.
ResponderExcluirBueno,
ResponderExcluirHá uma manifestação por parte da comissão do referido festival, recomendo a leitura para que tirem suas conclusões.
Particularmente, não mudo o meu discurso. Palavras bonitas não têm o condão de me convencer das boas intenções das pessoas.
Penso que de fato, alguns "poucos trocados" não serão jamais o que vai valorizar a atividade do músico. Mas pergunto se tocar para um teatro vazio seria então valorizar o trabalho dos músicos e compositores?
O que alguns chamam de "poucos trocados" tem um nome. O nome que se dá a esses "trocados" é remuneração, porque a música é uma atividade profissional, embora muitos "agente culturais" não vejam desta forma e acreditem que os artistas devam se sentir privilegiados por tocarem em "seus eventos".
Seguinte, os músicos também têm sonhos, só que o seguinte: não se paga aluguel, supermercado, luz, água, telefone e os demais gastos diários com sonho. Muitos músicos gostariam de viver esse lindo sonho, mas infelizmente nem sempre é possível, e muitas vezes o cara "racha as costas" tocando baile, tocando em bar, tocando em zona, ou em qualquer outro lugar pra pagar as contas que vencem na segunda-feira.
O que se questiona é a valorização do trabalho do artista que sobe a palco e/ou compõe. Repito: o que para alguns é denominado de "trocados" tem um nome correto, remuneração porque ao subir no palco se está exercendo uma profissão.
Desta forma, seguiremos criticando outros eventos que desrespeitam os músicos das mais variadas formas, desde o que não oferece "uns trocados" até o evento que não dispõe de acomodações adequadas de camarins, do que não oferece som e qualidade e por aí afora.
Que fique claro, não estamos fazendo uma crítica pessoal com relação a quem és, ou deixaste de ser. Não estamos criticando diretamente o "teu evento", a concretização do "teu sonho" que se chamou festival. A gente critica e sempre vai criticar, a desvalorização do artista, em qualquer evento.
Pra mim o "apoio incondicional dos músicos" não serve como forma de referendar os atos. Não me convence a idéia de que este apoio dê “lisura absoluta” ao evento. Temos um exemplo aqui do lado, de um festival que fez uma edição com pouco dinheiro e os músicos apoiaram, embora o descalabro com os artistas; e seguiu o descaso, tendo inclusive, ninguém recebido em uma edição, desde concorrentes a shows com artistas de renome. E o fato destes artistas terem subido no palco deste festival e feito a sua apresentação não significa em nada que se esteja apoiando atitudes espúrias ou a falta de valorização do músico. E este evento aconteceu aqui do lado. Sabe-se lá se não era um sonho também...
Que bom que o teu sonho não faz uso de verba pública. Que bom que as contas estão em dia e o evento não está devendo nada a ninguém. Mas ainda assim segue a crítica com relação a desvalorização dos artistas e diversos outros. Até porque se houvesse dinheiro público, ou mesmo particular, usado para o locupletamento ilícito, neste caso, além da crítica com relação a desvalorização dos artistas, haveria também uma conduta tipificada como crime.
Eu também tenho muitos sonhos. E seguinte, luto por cada um deles. E para realização do meu sonho eu uso o meu trabalho pessoal para alcançar. Eu aprendi assim: quando a gente tem um sonho, a gente se sacrifica por esse sonho; a gente uso do nosso suor para regar esses sonhos. Não é com o sacrifício das outras pessoas que a gente realiza os nossos sonhos.
Quem dera eu tivesse tido a oportunidade de ter tido a Mercedes Sosa cantando no meu aniversário. Era um sonho que eu tinha. Mas seguinte, ela era profissional da música e pra vir eu tinha que pagá-la, o que não possibilitou realizar esse sonhos. Haveria outra possibilidade, se eu fosse amigo pessoal dela, amigo de infância, sei lá, tivesse jogado bola com o filho dela. Só que o seguinte: no meu aniversário, os convidados não pagam ingresso!
Antonio Guadalupe Júnior - Pelotas/RS