A NEGRA
(Silveira Martins e Porto Alegre)
Ritmo: Maçambique
Letra: Bianca Bergmann
Música: Carlos Catuype
O som das correntes pesadas roçando na areia...
Lonjuras e rastros de sangue ferindo o olhar...
Lamurias inundam de dor o olhar das sereias.
Que ao ver tantos negros gritando se negam cantar.
A negra surgiu do convés e andou pela praia;
Mirou as lonjuras e o sangue e ali não chorou.
Tocou nos vidrilhos e rendas bordadas na saia...
E aqui também quis ser rainha de nosso senhor.
A negra fazia parte da noite escura!
Nem os grilhões e as correntes pensavam mais.
Sua alma clara, liberta, plena de lua...
Brilhava mais do que as guias, com seus cristais.
São Pedro, Bará guardião dos mistérios do mundo,
Guardou num segredo profundo as chaves do céu.
E a negra sabendo ser dele essa terra bendita...
Desceu e beijou seu destino de sangue e de mel.
A negra fez bolo, fez pão e serviu seus senhores.
Sangrou a saudade de amores num leito vazio.
Seu leite jorrando dos seios matou tantas dores
E a fome dos três filhos brancos que nunca pariu.
A negra fazia parte da noite escura!
Nem os grilhões e as correntes pesavam mais.
Sua alma clara, liberta, plena de lua...
Brilhava mais do que as guias, com seus cristais.
Rainha de terras distantes, de luas sagradas...
A negra aqui foi escrava, foi mãe, foi avó.
E um dia lembrando a corrente na areia arrastada,
Notou mil faíscas luzindo em seu pranto de pó.
São Pedro, Bará guardião dos mistérios do mundo,
Abriu os seus braços de paz e sorriu lá no céu...
E a negra, rainha faceira entendendo o chamado,
Beijou seu destino de sangue com gosto de mel.
E negra se foi embora da vida escura!
Deixando muitas histórias pra se contar...
Sua alma clara, liberta, plena de lua...
Voltou coroada de estrelas, pros braços do mar!
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