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Alguns dos grandes nomes da música nativista gaúcha, como Marco Aurélio Vasconcelos, Jorge Freitas, Jader Duarte, Nilton Ferreira, Raineri Spohr, Juliano Moreno, Robledo Martins, Clênio Bibiano, Rodrigo Duarte, Antonio Carlos Soares, Jean Kirchoff e Adams Cézar integram o projeto Conterrâneos, que está lançando o seu primeiro CD pelo selo Luna Soluções Culturais em parceria com o Núcleo Cachoeirense de Compositores Nativistas (NCCN) e Canto dos Galos.
Como o título diz, a coletânea reúne 16 obras de autores nascidos ou residentes em Cachoeira do Sul. Mais do que autores, são amigos que organizaram o Núcleo de Compositores e promovem um festival-laboratório no município, e têm obras registradas em diversos festivais nativistas ou em Cds de artistas gaúchos. O trabalho traz o registro autoral de João Rafael Teixeira Chiappetta, Mateus Neves da Fontoura, Ezequiel da Rosa, Felipe Radünz, Rodrigo Duarte, Marcelo Paz Carvalho, Carlos Gilberto Machado e Cleiton Evandro dos Santos, letristas e melodistas – ou ambos – nascidos ou radicados na “Princesa do Jacuí”.
“Todos nós temos uma relação muito próxima com a Vigília do Canto Gaúcho, que nos inspirou e abriu as primeiras oportunidades de competir no seu palco. Mas, acima disso, há laços de amizade. Criamos um Núcleo Cachoeirense de Compositores Nativistas para não deixar a Vigília morrer, quando houve o risco de o festival não mais ser realizado, e dali surgiram diversos projetos culturais. O Canto dos Galos é um deles, e a Coletânea Conterrâneos é outro. Ainda há mais por vir”, revela Cleiton Evandro dos Santos, secretário-geral do NCCN.
Segundo ele, a participação coletiva diluiu os custos e favoreceu a distribuição. Foram 2 mil Cds comercializados, o que é uma tiragem expressiva para uma obra independente. E já está em gestação o número dois da coleção. O Cd vem com um encarte no qual cada autor é apresentado, constam as letras das músicas e a ficha técnica de cada gravação com o nome dos músicos participantes. “Não foi um trabalho simples. Exigiu tempo, paciência e zelo. Mas, o resultado final nos satisfaz plenamente”, analisa.
Carlos Gilberto Machado, diretor da Luna Soluções Culturais, também considera o resultado satisfatório. “Foi um meio muito interessante de viabilizar o registro destas obras. Os custos foram divididos por cotas e hoje a obra vem sendo divulgada amplamente. E está servindo de inspiração para outros projetos”, explica.
Conterrâneos, somos nós!
Texto de apresentação: Cleiton Evandro dos Santos
Se diz em Cachoeira do Sul que quem bebe da água do Rio Jacuí, sempre volta. Acredito que os oito compositores que formam o Projeto Conterrâneos corroboram essa crença, à medida em que quase todos um dia partiram de Cachoeira, mas sempre dão um jeito de voltar, seja fisicamente, nas boas lembranças, na saudade, pela música ou o contato permanente com amigos e familiares.
Quem parte deixa um pouco de si. E ao deixar-se, em parte, jamais se ausenta integralmente. Quem fica, parte um pouco também. Uns asas, outros raízes. Juntos, asas e raízes que nos fazem voar na fertilidade das composições ou assentarmos na necessidade da presença física.
Em comum, além da amizade, das parcerias e das composições, a linha mestra da referência geográfica. Nascidos ou adotados pela velha Cachoeira do Fandango, temos a trajetória das linhas da vida bem definidas por estas paragens. São lembranças, saudades e referências históricas, vivências individuais ou compartilhadas pelas ruas, campos e rios da velha São João da Cachoeira, a Capital Nacional do Arroz.
Uns mais campeiros, outros nem tanto, fundindo em som e verso suas crenças, hábitos, verdades, fantasias, reflexões, alegrias e tristezas, sonoridades, cada um baseado em sua própria experiência de vida, em seu talento, suas influências literárias, poéticas e musicais. De campo e cidade.
Há laços sanguíneos e de ternura que nos unem ao município. E há o laço da amizade, que trançado pelo fio do tempo traduz pelo canto, o verso e a música a alegria de cada reencontro. Somos amigos!
Quem partiu e quem ficou, sabe em seu íntimo que chora águas de Jacuí, transpõe pontes de pedra em qualquer rincão do mundo, vê o sol emponchar-se do horizonte verde que rodeia a cidade, até dourar os cachos de arroz nas várzeas. Ou nas tardes amareladas das velhas casas em que vivemos.
Nas noites de verão, esteja onde estiver, nosso universo ainda vislumbra, num piscar de olhos, as águas dançantes num baile ritmado, entrecortado pelo repicar de sinos vindos da Matriz da Conceição, onde Netuno e Nossa Senhora flertam em silêncio de nuvens.
Somos guris, ainda, que repontaram tropas no Iruí, na Cordilheira, no Geribá, correram carreira de petiço na Porteira 7, na Pertile e nas Três Vendas, poitearam pintados pelas barrancas do Jacuí e no Capané. E pularam taipas, descalços, pra pegar lambaris. Somos os moços de sonhos férteis de mudar o mundo pelas calçadas da 7 de Setembro e da Júlio de Castilhos, das tertúlias nos CTGs e das Vigílias na Fenarroz, de voltar de trem ou carona nos finais de semana para ver a família, os amigos, e não perder baile.
Somos os moços que milonguearam uns acordes nos acampamentos das Vigílias e Apartes, e pegaram gosto... e ainda encontram tempo e razões para dedilharem uma guitarra, uma cordeona ou empunhar uma caneta para vestirem seus versos, seus acordes, de causos, histórias e estórias. A parte que cada um deixou ou levou de Cachoeira.
Somos os homens, que buscaram sonhos na ilusão povoeira e voltam à Cachoeira para se encontrar.
Nos orgulhamos dessa condição de conterrâneos, amigos, compositores, mensageiros e peregrinos do verso, da música. De representar Cachoeira do Sul nos festivais do Rio Grande e do Brasil com nossas opiniões, impressões, sentimentos e conceitos... De expressar o que sentimos, vivemos e pensamos através da arte nativista.
Conterrâneos, somos nós!!
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