Matéria gentilmente enviada para o Bahstidores pelo poeta Gujo Teixeira .
Forrando um botão
Felipe Severo
jornalista
O livro que o leitor tem em mãos neste momento é o registro de um trabalho maduro do poeta que cantou praticamente tudo o que existe no universo rural do Rio Grande do Sul. Com cinco livros publicados e quase 400 canções gravadas na voz dos maiores nomes da música gaúcha, Gujo Teixeira, compositor radicado em Lavras do Sul, aqui, transforma em poesia objetos do cotidiano campeiro, dando vida e alma a coisas que não imaginamos que tivessem. E coroa seus vinte e tantos anos de militância nos movimentos nativistas com essa importante publicação.
Cada sétima – estrofe de sete versos – é um poema inteiro com início, meio e fim. E são mais de trezentas! Todas ilustradas pelo não menos talentoso Jaime Iserhard, repetindo a parceria de 1999, quando o desenhista também emprestou sua arte ao primeiro registro de Gujo, o livro “Na Madrugada dos Galos”. Traços que ajudam a definir o real sentido do verso, materializando a poesia do autor, na compreensível situação de alguém não identificar do que se trata, em virtude da linguagem conotativa majoritariamente utilizada, e pela justificável falta de convivência com os instrumentos crioulos. Alguns que já caíram em desuso e outros que, infelizmente, estão fadados a este triste fim.
Como o próprio autor adverte, o livro não se propõe um registro bibliográfico para estudos lexicais. Talvez uma obra de cabeceira destinado a amantes da cultura gaúcha, ou ainda para que ampliem o vocabulário regional. Mas certamente um olhar singular, recheado de metáforas sensitivas, sobre coisas da região da fronteira.
Muito do que preenche essas páginas já foi empregado pelo autor em suas milongas e chamamés nos festivais Rio Grande a fora. Ainda assim, Gujo encontra a utilização de cada palavra na literatura regional, citadas em trabalhos de terceiros, legitimando suas sétimas e consagrando a existência de cada objeto.
Sétimas de Mundaréu não pretende ser um livro destinado à pesquisa, mas será. Não hoje, ou amanhã. Talvez quando chegar o dia em que não soubermos mais o que é e para que serve, por exemplo, uma ‘aba do basto’ ou uma ‘zorra’. Porém, se você já não sabe do que se trata, é por que esse registro chega na hora certa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário