BRASIL DE NINGUÉM
(Porto Alegre e Osório)
Ritmo: Ixejá
Letra: Guilherme e Thiago Suman
Música: Adriano Sperandir
Conquistadores portugueses,
Marinheiro e sacerdote...
Vieram de lote – vieram de lote;
Pra cravarem sua bandeira
Neste solo tão fecundo
Um recanto já com dono,
Mas a terra não reclama,
Lucraram em Pindorama
(Do lado de cá do mundo)
Soaram os atabaques
E também tantos sotaques
No canto da Pirama,
Na palmeira e o sabiá.
Mas Europa já se vinha
Devorando a nova terra;
Na batina ou na guerra,
-Tá na carta de Caminha-
Veio o rei e sua rainha,
Depois Negros com seus filhos...
Tanta raça, abaité, mandacaru
Mamelucos e cafusos,
Descendência do confuso.
É pau-brasil, abaporu.
Miscelânea brasileira,
Batucada nacional
É samba de gafieira,
Ixejá de batuqueira,
O terreiro sexta-feira
Um pampa novo cultural.
Há muito tempo que é assim,
Terra de ninguém num enorme Deus acuda,
Terra do amém e também das belas bundas...
Religião não se tem
Mas feriado todo santo sempre ajuda!
Porque o povo é todo fé,
Muda o dia, muda templo e a imagem
Mas a crença ninguém muda!
É mandala dessa gente,
Tem cavaco e berimbau
É escambo, é cana, é ouro,
Um tesouro no quintal...
É a pátria de chuteiras
Num profano carnaval!
Glossário:
Abaeté – homem indígena, velho
Mandacaru – fruto
Abaporu – antropofagia (recuperado no modernismo literário brasileiro como símbolo nacional no quadro de Tarsila do Amaral)
Pindorama – região das palmeiras (Brasil em tupi)
Pirama – (Juca Pirama, poema indianista de G. dias, símbolo da pátria idealizada na emancipação política e cultural do Brasil no séc. XVIII)
Palmeira, sabiá – elementos extraídos da Canção do Exílio, poema saudosista de Dias, como valores nacionais do Brasil.
Ixejá – ritmo africano
“Pátria de Chuteira” – expressão do dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, expressando nacionalidade ligada ao esporte em dimensão épica; o futebol e a pátria.
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